Imagem alusiva ao artigo Avaliar Empresas: Entre a Ciência Financeira e a Arte da Decisão

Avaliar Empresas: Entre a Ciência Financeira e a Arte da Decisão

16/04/2025
Imagem alusiva ao artigo Avaliar Empresas: Entre a Ciência Financeira e a Arte da Decisão
Avaliar uma empresa pode parecer, à primeira vista, um exercício técnico. Recolhem-se demonstrações financeiras, aplicam-se modelos como o DCF (Discounted Cash Flow), e chega-se a um valor. Mas quem já viveu um processo de M&A ou liderou uma decisão de investimento sabe que a realidade é mais complexa.

A avaliação de empresas acontece no ponto de encontro entre dois mundos: o da ciência financeira, estruturada e quantificável, e o da interpretação estratégica, moldada por expectativas, contexto e experiência. Este equilíbrio torna-se ainda mais crítico no atual contexto global, caracterizado por ambientes VUCA (Voláteis, Incertos, Complexos e Ambíguos) e BANI (Frágeis, Ansiosos, Não-lineares e Incompreensíveis). Nestes cenários, decisões de investimento exigem não só rigor técnico, mas também uma capacidade reforçada de leitura de incerteza e adaptação a fatores exógenos de alto impacto, como crises geopolíticas, disrupções tecnológicas ou alterações climáticas. No entanto, estes contextos instáveis também geram oportunidades únicas — surgem novos mercados, tecnologias emergentes, dinâmicas de reindustrialização, políticas públicas favoráveis à inovação e tendências de nearshoring que revalorizam localizações estratégicas como Portugal.

A ciência revela-se no cálculo do WACC, que combina o custo do capital próprio (estimado com base em betas desalavancados e prémios de risco de mercado) com o custo da dívida, ponderados pelas respetivas proporções na estrutura de capital da empresa. Aparece ainda na projeção dos fluxos de caixa, nos múltiplos estatisticamente ajustados, no uso de KPIs como ROIC, margem de EBITDA ou EBIT. Mas é também arte quando, por exemplo, temos de decidir quantos anos projetar numa empresa em fase de crescimento acelerado, ou qual a taxa de crescimento na perpetuidade de um grupo em reestruturação.

O mesmo modelo DCF que parece objetivo pode ser altamente sensível a pressupostos como a margem de EBITDA futura ou as necessidades de CAPEX. A normalização do EBITDA, os ajustamentos por sinergias esperadas ou riscos regulatórios, ou a inclusão de prémios de controlo num processo de M&A são tudo exercícios onde a experiência e o contexto do analista são decisivos.

É neste cruzamento que se destaca o uso de simulações de Monte Carlo. Esta técnica estatística permite modelar a incerteza de forma estrutural, ao definir distribuições de probabilidade para variáveis-chave como taxas de crescimento, margens operacionais e taxas de desconto. Através da execução de milhares de iterações do modelo, obtém-se não um único valor, mas uma distribuição de resultados que revela não só o valor esperado, como também o intervalo de confiança, a volatilidade e a probabilidade de ocorrência de diferentes cenários. Este tipo de abordagem permite testar a robustez da avaliação face a choques externos e introduz uma dimensão quantitativa essencial para navegar num mundo VUCA/BANI. A simulação de Monte Carlo deixa, assim, de ser uma ferramenta acessória para se afirmar como uma componente técnica central na avaliação moderna de empresas.

Não há uma "receita" para avaliar empresas. Há ferramentas e métodos, sim, mas sobretudo há decisões informadas por experiência, bom senso e leitura de cenários. Dominar a técnica é necessário, mas insuficiente. O verdadeiro valor está em saber quando aplicar a ciência, quando confiar na arte e, sobretudo, como combinar ambas de forma coerente.

Porque, no fim, avaliar uma empresa é mais do que estimar um valor — é compreender o seu potencial, os seus riscos e o seu futuro num mundo cada vez mais imprevisível, mas também repleto de novas possibilidades.

Gostaria de saber o valor da sua Empresa?

Deixe o seu e-mail na caixa ao lado e os nossos especialistas entrarão em contacto.

Webinar: Avaliação de Empresas - Melhores Práticas e Estado da Arte

Artigos relacionados

Saiba mais sobre as Óticas Rendimento, Mercado e Ativo
Qual a importância de se avaliar uma marca?
Tudo o que precisa saber sobre este Modelo

Contactos

Temos ao seu dispor uma equipa formada por profissionais altamente qualificados e experientes nas áreas em que operam.
Paulo Lourosa
Paulo Lourosa
Managing Partner
Advisory