O mais recente Relatório Riscos & Conflitos 2023, publicado pelo Observatório Nacional de Cibersegurança (CNCS), traça um retrato detalhado do estado da cibersegurança em Portugal. Num mundo cada vez mais digitalizado e interdependente, o relatório evidencia como os riscos cibernéticos se tornaram uma preocupação estratégica, afetando não apenas sistemas tecnológicos, mas também a confiança social, a economia e os serviços essenciais.
Alvos de incidentes
Em 2023, os Prestadores de Serviços de Internet (ISPs) foram os principais alvos de incidentes de cibersegurança, representando 81% dos casos registados pelo CERT.PT. Este número impressionante reflete a importância crítica dos ISPs na infraestrutura digital nacional e a sua vulnerabilidade a ataques de larga escala. A seguir aos ISPs, os setores das Infraestruturas Digitais e da Educação, Ciência e Tecnologia também registaram uma quantidade significativa de incidentes, embora em menor escala.
O relatório destaca que, apesar de uma estabilização no número total de incidentes, o impacto social e operacional dos ataques aumentou consideravelmente. Os atacantes estão a recorrer a técnicas cada vez mais sofisticadas, explorando vulnerabilidades desconhecidas e utilizando métodos de engenharia social para enganar utilizadores e comprometer sistemas. O phishing, o smishing e o vishing continuam a ser formas comuns de ataque, muitas vezes combinadas com spoofing para simular entidades legítimas. O ransomware mantém-se como uma das ameaças mais destrutivas, com exigências de resgate em criptomoedas e consequências graves para a continuidade dos serviços.
Casos mediáticos
Entre os casos mais mediáticos de 2023 estão os ataques à Vodafone Portugal, ao Hospital Garcia de Orta, à TAP Air Portugal, à Sonae MC e ao Laboratório Germano de Sousa. Estes incidentes demonstram que os alvos não se limitam a empresas tecnológicas, mas incluem instituições com impacto direto na vida dos cidadãos, como operadores de saúde, transportes e retalho. Os efeitos destes ataques vão desde a interrupção de serviços até à exposição de dados pessoais e clínicos, gerando preocupações sérias sobre privacidade e segurança.
O relatório também aponta para tendências emergentes que irão moldar o futuro da cibersegurança em Portugal. A expansão da superfície de ataque, impulsionada pela proliferação da Internet das Coisas (IoT), pela implementação do 5G e pela crescente adoção da computação em nuvem, cria novos desafios para a proteção de sistemas. Além disso, os conflitos geopolíticos, como a guerra na Ucrânia, têm intensificado o uso da ciberesfera como campo de batalha, com ações de espionagem, sabotagem e desinformação a serem cada vez mais comuns.
Inteligência Artificial
Outro ponto de destaque é o uso crescente de inteligência artificial generativa para criar conteúdos falsos e manipuladores, dificultando a distinção entre informação legítima e desinformação. Esta realidade exige uma resposta coordenada e multidisciplinar, que envolva não apenas especialistas técnicos, mas também comunicadores, legisladores e educadores.
Medidas estratégicas
Para enfrentar estes desafios, o CNCS propõe um conjunto de medidas estratégicas que visam reforçar a resiliência nacional:
Conclusão
Em suma, o Relatório Riscos & Conflitos 2023 é um alerta claro: a cibersegurança deixou de ser uma preocupação exclusivamente técnica e passou a ser uma questão estratégica nacional. A proteção do ciberespaço exige uma abordagem integrada, que combine tecnologia, educação, legislação e colaboração. Num mundo cada vez mais digital, a segurança é o alicerce da confiança — e sem confiança, não há progresso.
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