Ciberameaças alimentadas por tensões geopolíticas tornam a cibersegurança uma prioridade estratégica para as organizações
Dado que a instabilidade geopolítica está cada vez mais interligada com os riscos de cibersegurança, os acontecimentos globais tornaram-se uma preocupação direta para as organizações. Os ciberataques tornaram-se instrumentos de disrupção económica, pressão política e vantagem estratégica, afetando frequentemente empresas que não estão diretamente envolvidas em conflitos.
Esta interligação significa que a cibersegurança deixou de ser apenas uma questão técnica — é agora uma prioridade estratégica para os negócios. As organizações podem gerir proactivamente os riscos ao integrar a análise geopolítica no planeamento de cibersegurança e ao reforçar a sua resiliência cibernética para se protegerem contra ameaças desencadeadas por eventos globais.
Ciberataques como instrumentos da guerra moderna
Agentes patrocinados por Estados lançam regularmente ciberataques sofisticados contra infraestruturas críticas, cadeias de abastecimento e redes comerciais. As suas táticas incluem frequentemente ransomware, malware de espionagem e explorações altamente automatizadas, tornando os ataques mais rápidos, sofisticados e difíceis de detetar.
Alguns incidentes recentes notáveis relacionados com tensões geopolíticas incluem:
- Interrupções operacionais, como o ataque de 2022 à Viasat, fornecedor de comunicações por satélite, que afetou serviços de internet em toda a Europa.
- Violações de prestadores de serviços geridos (MSP), como o incidente de ransomware da Kaseya em 2021, que afetou milhares de organizações globalmente através de vulnerabilidades exploradas nas redes dos MSP.
- Ataques a instituições financeiras como forma de retaliação económica ou pressão estratégica, exemplificados por ataques repetidos de negação de serviço distribuída (DDoS) a bancos ucranianos durante conflitos regionais.
- Violações nos sectores da saúde e energia, incluindo o ciberataque à Colonial Pipeline em 2021, que provocou escassez de combustível na costa leste dos EUA e evidenciou vulnerabilidades nas infraestruturas energéticas.
Estes exemplos demonstram como as empresas podem sofrer danos colaterais graves no contexto de conflitos geopolíticos. Muitas organizações assumem que não são alvos prováveis de ciberataques por não provocarem adversários ou não estarem diretamente envolvidas em conflitos. No entanto, muitos agentes maliciosos visam estrategicamente prestadores de serviços amplamente utilizados, infraestruturas partilhadas ou ecossistemas digitais interligados. A natureza interconectada do comércio global significa que os ciberataques podem propagar-se pelas cadeias de abastecimento e redes digitais em poucas horas, afetando organizações sem qualquer ligação óbvia às tensões globais.
Porque é que os líderes empresariais devem estar atentos
O impacto das ciberameaças geopolíticas vai muito além das perturbações técnicas. Eis quatro áreas onde estas ameaças representam riscos estratégicos significativos que afetam as operações centrais, a reputação e a conformidade regulatória das empresas:
- Interrupção do negócio: Os ciberataques podem escalar rapidamente para períodos prolongados de inatividade operacional, afetando gravemente a prestação de serviços e as relações com os clientes.
- Perdas financeiras: Responsabilidades legais, coimas regulatórias e custos associados à inatividade, recuperação, esforços de remediação e pagamentos de resgate podem atingir milhões de euros.
- Danos à marca e reputação: A perceção pública e a confiança dos clientes podem ser gravemente afetadas após violações de grande visibilidade, especialmente quando envolvem dados sensíveis ou serviços críticos.
- Exposição regulatória: Ataques por adversários estrangeiros podem desencadear questões de conformidade transfronteiriça e exigir envolvimento com múltiplas entidades reguladoras, aumentando a complexidade e o escrutínio organizacional.
Gerir riscos de cibersegurança em tempos de volatilidade geopolítica
Para enfrentar este cenário de ameaças multifacetado e perigoso, as organizações podem tomar medidas proativas cruciais:
- Avaliar a exposição ao risco geopolítico: Realizar exercícios de mapeamento abrangente para identificar dependências de fornecedores, operações e infraestruturas localizadas em regiões geopolíticas sensíveis. Avaliar parcerias internacionais, transferências de dados transfronteiriças e relações com terceiros ajuda a clarificar vulnerabilidades potenciais.
- Melhorar a deteção e resposta a ameaças: Reduzir os limiares nos sistemas de deteção para identificar proactivamente atividades subtis e anómalas indicativas de ataques em fase inicial. Monitorização em tempo quase real, análise comportamental e tecnologias de deteção de anomalias permitem identificar ameaças rapidamente antes que escalem. Testar e aperfeiçoar regularmente os planos de resposta a incidentes ajuda a proteger contra cenários como ataques de ransomware direcionados ou disrupções na cadeia de abastecimento.
- Proteger sistemas críticos através de isolamento e segmentação: Estabelecer protocolos claros para isolar sistemas sensíveis ou críticos durante períodos de tensão geopolítica ou ameaças iminentes. Estratégias robustas de segmentação ajudam a impedir movimentos laterais dos atacantes dentro das redes internas após uma violação inicial.
- Reforçar a colaboração com o governo e a indústria: Trabalhar com agências governamentais e organizações do setor pode fornecer camadas adicionais de defesa. Aproveitar recursos e inteligência de ameaças de entidades como a CISA, o FBI, a comunidade de inteligência e os seus homólogos internacionais. Participar ativamente em centros de partilha de informação e plataformas específicas do setor facilita estratégias defensivas colaborativas.
- Reforçar a preparação da força de trabalho: A preparação dos colaboradores é essencial para a resiliência cibernética. Sessões regulares de formação para todos os níveis, incluindo executivos, devem focar-se na identificação e resposta a ameaças sofisticadas patrocinadas por Estados, como phishing, engenharia social e ameaças persistentes avançadas. Simulações realistas e exercícios de mesa com a liderança organizacional apoiam respostas rápidas, eficazes e coordenadas.
- Investir em tecnologias e arquiteturas resilientes: Fortalecer a postura de cibersegurança através de tecnologias resilientes. Priorizar a resiliência cibernética nas decisões de aquisição tecnológica, escolhendo produtos com redundância, tolerância a falhas e capacidades de recuperação rápida. A adoção de arquiteturas de confiança zero minimiza a exposição e mitiga rapidamente danos causados por credenciais comprometidas ou acessos não autorizados.
Resiliência cibernética num mundo incerto
Com poucas normas internacionais aplicáveis ao ciberespaço, as organizações enfrentam riscos e incertezas crescentes, especialmente em setores críticos como finanças, saúde, indústria e serviços públicos. Uma postura reativa ou insuficientemente proativa deixa as organizações vulneráveis a consequências financeiras e operacionais catastróficas.
Construir resiliência cibernética deve ser uma prioridade estratégica integrada em todas as decisões organizacionais e práticas de gestão de risco. As empresas precisam de mitigar ameaças imediatas, adaptar-se rapidamente e recuperar eficazmente de ataques resultantes de conflitos geopolíticos. O custo de uma preparação inadequada pode incluir perdas financeiras imediatas e danos duradouros à vantagem competitiva, à confiança dos clientes e à viabilidade organizacional.
Cibersegurança como prioridade estratégica
Os riscos de cibersegurança associados à geopolítica irão provavelmente aumentar tanto em alcance como em impacto, pelo que a vigilância contínua é essencial. Os líderes das organizações podem integrar a cibersegurança como uma prioridade estratégica, facilitando a avaliação proativa de riscos, práticas de defesa robustas e capacidades de resposta rápidas e bem treinadas.
As organizações que se mantêm informadas, ágeis, resilientes e capazes de navegar na incerteza estão melhor preparadas para proteger os seus sistemas críticos, dados sensíveis e relações de confiança.
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