Capital de Risco e empreendedorismo em Portugal

Capital de Risco e o empreendedorismo em Portugal

A evolução nacional no processo de investimento

22/05/2019
Capital de Risco e empreendedorismo em Portugal

Na última década observou-se uma mudança significativa na dinâmica empresarial portuguesa, muito devido à necessidade de surgirem mais empresas competitivas e inovadoras para o mercado. Num contexto onde o financiamento bancário era a forma mais comum de financiamento das empresas em Portugal, apesar de cada vez ser mais condicionado, as novas empresas que surgiam com projetos inovadores e com um grande potencial de crescimento, mas que por falta de ativos tangíveis e devido aos perfis de elevado risco que apresentavam, não estavam alinhadas com as características de um perfil de risco exigido pelos bancos. Assim, surgiu a necessidade de reforçar os instrumentos de financiamento para além dos empréstimos bancários e estimular a intervenção no capital de risco, de forma a apoiar os empreendedores e a potencialmente internacionalizar os seus projetos.

O capital de risco tornou-se assim uma das principais modalidades de investimento da atualidade devido também às diversas vantagens que estão associadas, tais como o seu papel potenciador de inovação, chegando a ser considerada uma estratégia para o crescimento das economias. Esta modalidade consiste numa participação minoritária e temporária no capital social de uma jovem empresa por investidores financeiros especializados neste tipo de mercado, com uma perspetiva de alienação desta mesma participação no médio/longo prazo. Para que esta mesma alienação tenha um output positivo é necessário que o projeto/negócio tenha um elevado potencial de rentabilização e crescimento dentro do seu mercado/indústria, como por exemplo, um investimento com fácil retorno estaria inserido em setores das tecnologias. O principal contributo deste tipo de investidores passa por transmitir o seu know-how, seja do setor/indústria onde estes atuam, ou mesmo dos processos necessários para fazer o projeto/negócio alavancar.

Para tal e em conformidade com o resto da Europa, existem três tipos de investidores na indústria do capital de risco que se distinguem como os Business Angels (BA), juntamente com os Venture Capitalists (VC) e os Corporate Venturing (CV), sendo as duas primeiras mais comuns no panorama nacional e o principal foco de compreensão para a frente.

De forma a compreender melhor o desenvolvimento da indústria do capital de riso vamos começar por distinguir os BA dos VC. Os investimentos mais consideráveis são realizados pelas VC, uma vez que preferem investir em projetos/negócios cuja viabilidade e possível retorno financeiro sejam mais substanciais. Assim, projetos em fase de expansão são preferíveis por parte deste tipo de investidores comparando com empresas em seed ou early stage (empresas em fase de lançamento ou pré-instaladas). Por outro lado, dentro do panorama económico que vivemos, iniciar um projeto/negócio inovador e/ou tecnológico pode apresentar diversas restrições no que toca ao financiamento para novos empreendedores, aqui surgem os BA. Na tabela abaixo encontram-se as principais diferenças entre estes dois grupos de investidores:

Características

Business Angels

Venture Capitalists

Perfil

Antigos empreendedores

Sociedades financeiras e/ou consultoria

Fonte de capital

Capitais próprios

Gestão de Fundo de capital e/ou investimento em capitais alheios

Estágio de desenvolvimento da empresa participada

Seed e Early stage

Negócios em fase de expansão (maioritariamente)

Instrumentos de investimento

Ações ordinárias

Ações preferenciais

Acompanhamento

Ativo

Estratégico

Montante do investimento

100.00. – 400.000 euros

>2M euros

Fonte: “Financing High-Growth Firms: The role of angels investors”, OCDE 2011

Passando ao processo de investimento, particularmente dos BA, este requer numa fase inicial a partilha da sua experiência estratégica e operacional com os novos empreendedores onde o BA identificou uma oportunidade. Algo importante será também a sua lista de contactos, desta forma, o novo empreendedor começar a desenvolver o seu network que, normalmente, acontece em torno de uma determinada área de negócio, onde o investidor, muitas vezes, já possui um portefólio diversificado de investimentos, diminuindo o risco de perda do seu capital. Muitas vezes, diferentes investidores de BA juntam-se e investem em conjunto no mesmo projeto, aguardando a altura oportuna para saírem do projeto.

Os setores ligados à internet e redes sociais fizeram despoletar o mercado dos BA, quer em Portugal como no resto da Europa, por serem setores onde o montante de investimento inicial é mais reduzido quando comparados, por exemplo, ao healthcare, entre outras indústrias. Também, os agentes económicos aperceberam-se desta falha de mercado no que toca ao financiamento de negócio inovadores no seu early satge, daí as barreiras fiscais e/ou regulatórias terem vindo a ser removidas, bem como os incentivos e fundos de investimento têm vindo a aumentar até aos dias de hoje.

Hoje em dia, Portugal já tem diversas stratups espalhadas pelo mundo, chegando mesmo a ter um unicórnio (startup avaliada em >1.000M€). Algumas das “tendências” para quem vai abordar o empreendedorismo em 2019 passam por Software as a Service, IoT, Cibersecurity, RPARobotic Process Automation - e AI – Inteligência Artificial. Em Portugal, a Rede Nacional de Incubadores já conta com 135 entidades que apoiam diretamente mais de 3000 startups. Mesmo assim, o “ser empreendedor” na atualidade é das profissões mais desafiantes, tanto pela contribuição que traz à sociedade a investindo nas pessoas através da criação de novos postos de trabalho, como pela riqueza que pode gerar para o nosso país.