Ernâni Lopes

Conferência Homenagem a Ernâni Lopes

Universidade Católica

José Esteves
03/09/2025
Ernâni Lopes

A Crowe em Portugal estará representada por José Poças Esteves - Executive Partner da Crowe Advisory SaeR na Homenagem a Ernâni Lopes, considerado um dos mais reputados e influentes economistas portugueses, organizada pela Universidade Católica - Instituto de Estudos Políticos, Lisboa, a 10 de setembro 2025, 18:00. O discurso de encerramento estará a cargo do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Nessa homenagem, será lançado o livro "Ernâni Lopes, Vida e Pensamento", com a chancela da UCP Editora, que reúne textos de Ernâni Lopes e testemunhos de colegas, colaboradores e amigos, com coordenação de José Pena do Amaral, Roberto Carneiro, Abraão de Carvalho, Filipe Coelho, José Poças Esteves, Madalena Martins e Sónia Ribeiro. Será feita, a título póstumo, a outorga das insígnias de Economista Emérito pela Ordem dos Economistas. Mais informações sobre a Conferência aqui.

Em memória a Ernâni Lopes, republicamos um texto denominado "Um príncipe de Portugal", por José Poças Esteves, originalmente publicado pela AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval, na Revista AORN n 19, Ano XVI, outubro de 2011, aqui.

 

  • UM PRÍNCIPE DE PORTUGAL - por José Poças Esteves

Conheci o Ernâni (como era tratado, com um misto de grande respeito e grande carinho), como seu aluno no ISEG, em 1971, tendo, posteriormente desde1988, tido o privilégio de trabalhar com ele, primeiro apoiando-o na constituição da SaeR (fruto da sua visão estratégica, inicialmente como Agência Rating e, posteriormente, como consultora em Prospetiva, Geopolítica e Estratégia) e uma das suas “meninas dos olhos” e, a partir de 2004, como seu sócio na SaeR e na Companhia Portuguesa de Rating.

Como acontecia com todos os que com ele lidavam, o Ernâni marcou-me. Quanto mais trabalhava com ele e melhor o conhecia, maior era a minha admiração profissional e pessoal por ele. E devo confessar que não me considero muito influenciável por personalidades! Ernâni marcou-me a mim e a várias gerações de alunos e de colegas. Falar no Professor Ernâni Lopes é falar, para os economistas portugueses, numa grande referência. Era, de facto, uma pessoa singular, um “fora de série”. Nunca alguém ficava indiferente perante o Ernâni, o seu saber, o seu rigor, a sua clarividência e a sua força.

Era um homem de causas. Sempre me admirou a sua capacidade para conjugar a Fé e a Razão. Amava Portugal e dizia-o!

Não foi por acaso que esteve nos momentos mais marcantes da história recente da economia e da sociedade portuguesas: foi diplomata em Bona (com pouco mais de trinta anos num país fundamental para a construção europeia); foi o grande conceptualizador e executante da integração de Portugal na Europa (como Chefe de Missão, teve a responsabilidade pelo processo de integração de Portugal na CEE) e, por circunstâncias do destino, foi um dos assinantes do Tratado de Adesão, em 1986; foi, ainda, teorizador e professor de questões europeias e da economia portuguesa; como Ministro das Finanças, retirou Portugal da bancarrota, em 1983, e colocou Portugal na CEE, em 1986 (em três anos, o que revela as suas capacidades excecionais de clarividência e liderança).

Era extremamente rigoroso (nos tempos, nos conteúdos e nas comunicações) em tudo onde se envolvia. Era um pensador livre e independente. Adorava discutir, criar grupos de reflexão, era um bom ouvinte e, no final, era a opinião que ele formava e transmitia que passava a contar!

Era um homem corajoso: nunca notei qualquer situação que revelasse medo. Até perante a morte que enfrentou com enorme dignidade. A sua força, sobretudo moral era também singular: já em período em que estava muito doente e após sessões de quimioterapia extremamente desgastantes, chegava a dar conferências e aulas de quatro horas!

Como sócio, era como nenhum, pelas ideias, pelo trabalho e pela confiança. Um caso raro: na SaeR, por decisão dele como sócio maioritário, qualquer sócio-gerente podia tomar qualquer decisão, a qualquer nível. Tal era o nível da confiança! Deixou muitas ideias para serem continuadas, desde os domínios com potencial estratégico para a economia portuguesa, a questão estratégica fundamental da Lusofonia e do triângulo Europa-África- Brasil, o Mar e a Economia do Mar como desígnios nacionais, etc... Deixou grupos de reflexão, desde a SaeR, aos Estudos Europeus na Universidade Católica, ao Círculo de Reflexão Lusófona, entre outros...

Dizia que só podia ter sido três coisas: soldado, monge ou professor. Eu sei que, por tudo o que foi e fez, foi, sim, um Príncipe de Portugal.