O Motivo da Alta dos Preços

O Motivo da alta dos preços

Ricardo Rodil
10/02/2025
O Motivo da Alta dos Preços
Ponto de vista

Olhando o título desta matéria, não posso evitar de lembrar o saudoso Roberto Campos, quando afirmava que "inflação" não é alta dos preços; esta alta é apenas a consequência. Inflação, repetia o mestre, é excesso de dinheiro circulando na economia. Isso é o que causa a elevação dos preços. A meta de inflação, obviamente, já foi descumprida em 2024. Com 4,71% nos últimos 12 meses, não há qualquer espaço para entrar nem sequer no teto da meta, de 4,5%, o que dizer então do centro da meta, de 3%. E época de Festas não é propriamente aquela em que a procura será arrefecida. Alimentos, bebidas pesaram muito (8%) no último índice do IPCA divulgado, seguidos de perto por educação e saúde, na casa dos 5% a 6%.

De um modo geral, os alimentos são itens mais pressionados nesta época de comemorações, tendo neste mês de dezembro sido reforçados por uma queda na oferta de proteína animal. Uma lei que nem o Judiciário conseguiria derrubar é a de que os preços na economia são formados pelas forças da oferta e da procura (demanda). Quando circunstâncias sazonais ou específicas contribuem para diminuir a oferta, mesmo com a demanda permanecendo igual, já levaria a pressões inflacionárias. Em época de quase pleno emprego, e de demanda aquecida também em função das comemorações do fim do ano, temos as duas forças empurrando para o mesmo lado: aumento de preços.

Neste cenário, teríamos de comemorar o baixo índice de desemprego e o fato de que a economia dá ainda sinais de se manter aquecida. Mas sempre há alguém a estragar a festa. Vamos então às notícias (ou circunstâncias) não muito boas. Vamos começar com o baixo índice de desemprego; em princípio, mais gente empregada e ganhando salários significa maior volume de dinheiro na economia. Com isto, a procura por bens e serviços aumenta; se esse aumento não for compensado com produção de bens e serviços na mesma proporção (produtividade \u2013 voltaremos a este tema mais adiante), haverá pressões inflacionárias. Note o leitor que eu disse "pressões inflacionárias"; não necessariamente inflação. Mas as condições estarão dadas.

Em segundo lugar, temos os sinais de que a economia continua aquecida. Esta circunstância é indissociável dos baixos índices de desemprego. O que nos leva a uma constatação que os economistas estão cansados de repetir: parte substancial desse aquecimento é causado pelo aumento do consumo das famílias, umbilicalmente ligado ao fator mencionado no parágrafo anterior. Neste cenário, e baseados na premissa de que o consumo das famílias está em grande parte vinculado aos programas sociais do governo, podemos ver que as pressões de demanda se concentram nos itens básicos de alimentação e bebidas. E isto não é privilégio da economia brasileira; estatísticas da CEPAL (Comissão Econômica para América Latina) mostram uma assustadora correlação entre crescimento do PIB e a contribuição da demanda interna ao longo do tempo nesta Região.

A respeito da economia aquecida, há ainda um fator geralmente esquecido por muitos analistas: a baixa produtividade da indústria de transformação e de vários setores de prestação de serviços na economia brasileira. A despeito dos diversos planos que foram sendo implantados ao longo do tempo, somente uns poucos setores industriais têm adquirido condições de competitividade no mercado internacional.

O acordo entre a União Europeia e o Mercosul poderá trazer alívio neste sentido, já que as indústrias brasileiras terão a chance de importar, sem pesadas cargas tributárias, maquinário destinado a ganhos de produtividade. A equação é simples: maior oferta de bens e serviços com a mesma massa salarial (dinheiro em circulação, mestre Roberto Campos) terá efeitos anti-inflacionários ou, como mínimo, de manutenção do nível de preços na economia como um todo.

Sempre haverá fatores sazonais a encarecer este ou aquele produto ou serviço, mas o segredo está na palavra "sazonais", o que, por definição, implica em fatores temporários, que pressionam os preços de determinados produtos e/ou serviços durante um período específico (entressafras, por exemplo) mas que, ao desaparecerem, trazem de volta os níveis de preços anteriores ao seu aparecimento.