A crise é geral e vai além do que nossos olhos enxergam, acostumados ao colírio do que a mídia nos entrega no cotidiano. Que não nos distraiam as notícias sobre a alta das "commodities", a invasão ao capitólio, o orçamento "secreto", a prisão domiciliar do Sergio Cabral, a "operação especial" da Rússia na Ucrânia, etc. São estas meras pontas de um iceberg que ou não vemos ou nos recusamos a olhar de frente, numa profunda inversão de valores.
Amar o próximo parece ser uma fraqueza que urge ser fortemente vigiada e sobejamente escondida. Ninguém pode se permitir ser fraco. Temos sempre a sensação de que expor emoções cria uma insegurança que nos levará irremediavelmente ao fracasso neste mundo competitivo, que é dos "fortes". Porque não parar para pensar o que entendemos por fraqueza, fracasso, sucesso, fortaleza? Porque não tentarmos desligar um pouco esse motor frenético que nós mesmos criamos e alimentamos, para encontrar-nos finalmente conosco? Com esse "eu" com o qual estamos fadados a conviver, com essa realidade que tanto tememos. Porque, sejamos sinceros, se não a temêssemos tanto não teríamos entrado de cabeça nessa corrida maluca, cuja única finalidade parece a de não "olhar para dentro".
O que cada um de nós é não é nem bom nem ruim, num sentido estrito. Se temos medo do julgamento os outros, da sociedade é, antes de mais nada, porque tememos nosso próprio julgamento. É este frente-a-frente que mais nos intimida. E nesse turbilhão de temores deixamos de enxergar a coisa mais simples: a única maneira de viver é conhecendo e, principalmente, aceitando aquilo que somos. Sem tentar encaixar essa visão em quaisquer moldes. Principalmente, sem tentar traduzir essa visão em palavras.
Só esse conhecimento pode nos dar a tranquilidade suficiente para abrir os olhos à realidade dos outros. Dessas pessoas que convivem conosco no cotidiano, que seguramente arrastam realidades parecidas ou muito semelhantes às nossas e de quem, habitualmente, temos um conhecimento apenas superficial. Ninguém é incapaz de amar; de amar pessoas, paisagens, atitudes, e por aí vai. E amar uma pessoa, uma paisagem, uma obra, etc. não significa fechar as portas ao resto do mundo.
Mas devemos começar a trilhar esse caminho olhando para dentro de nós, vamos transitar vagarosamente esse longo e infindável aprendizado do amor amplo e irrestrito. A única coisa que não podemos nos permitir é perder mais tempo.